Pátria que me pariu

Tou perdendo o meu sotaque PORRA!

Antigamente, quando as pessoas me conheciam, ficavam surpresas por uma de duas: eu não ter “cara de brasileiro”, e conseguir não perder o meu sotaque estando em Portugal desde os 5 anos de idade. A primeira parte eu pacientemente contrapunha com o facto de não fazer sentido nenhum existir uma “cara de brasileiro” padrão num dos países mais multi-étnicos do mundo; a segunda, eu orgulhosamente defendia com a convivência familiar e com o orgulho nas minhas raízes.

As coisas mudaram e aqui estou eu me rendendo às evidências. Se antes eu ainda me conseguia defender do “já não tem quase sotaque não é?” das pessoas com quem me cruzava esporadicamente com um “você é que não me ouviu falar muito ainda”, agora nem a mim próprio consigo enganar. Se num dia ou outro eu soava mais português, na escola ou no trabalho, no aconchego do lar me refugiava sempre tranquilamente com o meu sotaque (mais ou menos) carioca. Agora, nem isso.

Se há coisa que sempre me irritou foram os portugueses dando uma de engraçadinhos a forçarem horrivelmente o sotaque brasileiro e até a dizerem “para nós é fácil não é?”, e agora dou por mim tendo que forçar o meu próprio sotaque, que de meu já pouco tem! Estou fadado ao destino do meu pai, uma mistela de madeirense com continental com carioca cuja proveniência é impossível dissecar a “ouvido nu”.

Porque é que isso de certa forma me entristece? Porque na minha humilde opinião o sotaque brasileiro é muito, mas muito mais bonito, e além do charme que se desvanece, some um bocado da minha identidade, já de si precária: lá não sou de lá, aqui não sou daqui.

Sintomas de não visitar a terra onde nasci há mais de 10 anos… Fica pra pensar.

Para verem o quanto as minhas ideias viajam na maionese, me veio isto tudo à cabeça vendo este top de frases do rei Romário, exemplo nato do sotaque “carioquês”.

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