Cinemadas

Dracula

Em noite de halloween, satisfiz a minha vontade de rever o Dracula do Coppola. A seguir será o do Lugosi.

É um bom filme, mas ainda assim uma obra menor de Coppola, e menos prazerosa do que a leitura do clássico. Pode-se dizer que é em grande parte uma adaptação fiel, mas diverge em pontos fundamentais, com o amor e a entrega entre Mina e o Dracula à cabeça.

O Gary Oldman é brilhante na pálida pele do Conde, o velho Anthony Hopkins não tanto quanto o velho Ven Helsing mas tem os seus momentos, o grande Tom Waits dá uma excelente perninha de ator como o louco Renfield e o Keanu Reeves é mau demais para ser verdade, conseguindo tornar mais insonso ainda um papel que já de si o era.

A trivia do IMDB diz-nos que o próprio Coppola se arrependeu de escolhê-lo:

Francis Ford Coppola has openly criticized his own reasoning for casting Keanu Reeves as Jonathan Harker. According to him, he needed a young, hot star that would connect with the girls. 

Enquanto ele defende-se com o cansaço:

Keanu Reeves said years after the movie came out that he wasn’t happy with his work in it, stating he had been exhausted from making several films right on the heels of signing on as Jonathan Harker, and that he tried to raise his energy for the role “but I just didn’t have anything left to give”.

Retiro duas coisas daqui. Uma é que mesmo um mestre como o Coppola teve que fazer concessões, pois é sabido que andava nas lonas com o fracasso comercial dos filmes anteriores, e este Dracula possibilitou-lhe a recuperação. A outra é que não é necessariamente mau que assim seja, antes pelo contrário; tivessem todos os filmes de sucesso comercial a qualidade deste.

Side note: a música dos flashbacks da nova série de terror American Horror Story (muito boa, por sinal) parece-me claramente adaptada desta.

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Leituras

Bram Stoker’s Dracula

Falo aqui do romance de 1897 e não do filme homónimo, o primeiro clássico que o Kindle me deu o prazer de ler.

Não foi uma leitura fácil de arrancar, primeiro, pela linguagem e pelos maneirismos do inglês da altura; depois, pelo próprio ritmo da narrativa: é um romance epistolar, em que a história é desenvolvida através de cartas, jornais e diários dos personagens, e nas primeiras páginas todos estes elementos são extremamente descritivos e vagarosos. Passado o choque inicial, achei bastante interessante esta estrutura e a forma como vai juntando as peças e nos fornecendo diferentes perspectivas dos acontecimentos, bem como todo o ambiente gótico que os envolve.

Na minha opinião o Conde em si nem entra na competição para personagem mais interessante do livro, cabendo este papel a Renfield, o louco, seguido pelo professor Van Helsing. Todos os outros “bons” chegam a ser insípidos, de tão bons e puros que são e a forma como isso é constantemente salientado em cada página (e o quão maligno e repugnante é o Dracula, em contraste). Ao louco cabe um papel ambíguo, na forma como é usado pelo mal, e o modo delicioso como é relatado o  “method in his madness”. Já o velho Van Helsing, apesar de também ser extremamente bom e magnânimo, possui alguma frieza no seu raciocínio e métodos pouco ortodoxos de convencer os restantes e a levar a sua luta avante. As suas dissertações acerca das origens do Drácula, do comportamento humano (e desumano), sobre necromancia e etimologia, são qualquer coisa de brilhante.

Em suma, é um romance cativante e indispensável quer se goste ou não da temática, que tão em baixo tem andado. É pena (pelo menos nesta versão) não possuir ilustrações, pois proporciona um imaginário bastante propício a isso.

Gostava de poder avaliar a fidelidade do filme (ainda o do Coppola, entre inúmeros outros) ao livro, mas vi-o quando era muito, muito novinho, e pouco mais me lembro do que ter ficado fascinado com as maminhas da Monica Belucci e das amigas e de resto ter me escondido debaixo do cobertor por grande parte do tempo. Fica pra rever.

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