Teatradas

Commedia à La Carte

Estes gajos só vão estar até dia 20 de Junho no Villaret, mas não é tarde recomendá-los, porque eles hão-de estar aí em cartaz em mais locais.

Estivemos no espectáculo de ontem e saímos de lá com um cansaço abdominal do caraças. Commedia à La Carte é um espectáculo de humor de improviso, em que os actores vão pedindo ao público para sugerir personagens, frases, letras do alfabeto e vão magicando sketches a partir quase do nada. É claro que isto nunca é improviso puro, até por que os anos que já levam “de estrada” confere-lhes um traquejo enorme, mas é preciso muito, muito talento para conseguir levar a cabo uma coisa destas, e sempre com piada. De um segundo para o outro eles conseguem transformar-se em personagens completamente diferentes, e (quase) sempre sem perder a postura. Não é a apenas a representação, mas o aproveitar de todas as deixas do público, o espaço, os sons, tudo.

Inicialmente tinha um certo preconceito em relação ao César Mourão, gajo dos programas da manhã e não sei o quê… parvoíce, é mesmo um grande talento que anda por aí “perdido”, e aqui há mérito da Irina em ter me chamado a atenção para esse aspecto; ao Ricardo Peres e ao Carlos M. Cunha nem sequer conhecia, e fiquei surpreso principalmente com o último, de um humor literalmente agressivo, sem pejo de ameaçar ou insultar o público a toda a hora.

Às quintas eles costumam ter um convidado especial para improvisar no fim: ontem foi o Eduardo Madeira, na próxima semana será o Aldo Lima.

Noite bem passada e dinheiro bem gasto. Ide.

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Num dia igual aos outros

Foi complicado conseguir assistir esta peça! Tínhamos bilhetes para sexta, chegamos aos Restauradores mesmo em cima da hora marcada mas… e estacionar? Ardemos. As próximas sessões estavam esgotadas até ao domingo da outra semana, mas no sábado liguei para lá e não tinham sido levantadas as reservas de 5 bilhetes, lá nos safamos.

Para começar, a Sala Estúdio do Teatro D. Maria é pequeníssima, o que ajuda a criar uma boa atmosfera e “entrar” na cena, um gajo fica ali mesmo a sentir o cheiro do suor dos actores (tá um calor do caraças), é fixe.

A peça trata do reencontro de dois irmãos de uma família disfuncional após vários anos separados. Um deles não saiu da casa da família, e apodreceu junto com ela; o outro aparentemente é melhor sucedido e não se percebe bem porque é que voltou, mas à medida que vão desfiando as memórias e revelando os seus percursos a trama vai se adensando.

É complicado falar mais sobre a peça sem revelar as surpresas que ela reserva; apesar de saber que quem está a ler isto mais que provavelmente não irá vê-la… epá, vão vê-la! Não é caro, tem uma boa oportunidade para ver dois actores do caraças ao vivo e uma excelente trama psicológica com alguns bons momentos de humor à mistura.

Muito provavelmente não tem nada a ver, mas a representação do Waddington nesta peça ganha todo um novo sentido aos olhos do espectador depois de ouvir este excelente manifesto nesta entrevista do gajo (primeiros 4 minutos). Fica pra pensar.

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O que se leva desta vida

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Esta peça compensa plenamente o dinheiro do bilhete e uma tremenda molha na baixa. É a primeira peça portuguesa em que saio do teatro satisfeito.

É impressionante como uma ideia tão simples consegue ser tão bem desenvolvida. Dois chefs numa cozinha, o frenesim da busca do prato perfeito e uma divergência entre o tradicionalismo da natureza e da arte e a mecânica da ciência e da tecnologia (tanto poderia ser culinária quanto outra coisa qualquer). Uma hora e tal de magia, tanto na escrita quanto na interpretação.

Que o Gonçalo Waddington era um actor do caraças já eu sabia, do Tiago Rodrigues sequer tinha ouvido falar. Dois monstros. Há lá 10/15 minutos de discussão (e de humor) entre os dois de uma entrega tal que até arrepia, do melhor que já vi.

Acho graça a certas pessoas saírem do teatro ofendidas quando se intensificam os caralhos e os foda-se. Quando bem empregue, o vernáculo é sempre digno e justificado.

Até dia 22 no São Luiz, e tá barato. Conselho de amigo.

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Tangos e Tragédias

Quando ouvirem falar que este espectáculo está em cartaz, não hesitem. Só não aconselho que escolham a primeira fila, porque o risco de serem arrastados para o palco é maior.

Já é a minha segunda vez, e soube ainda melhor que a primeira. É completamente diferente de tudo o que já tenha visto; a melhor descrição que consigo arranjar para estes dois é: são completamente tresloucados, passados, possuídos.

São cerca de duas horas em que Maestro Pletskaya e Kraunus Sang vão contando a história do seu país imaginário, a Sbornia, cantando e desvirtuando músicas antigas e actuais ao som do violino e do acordeão, e convidando (ou obrigando) o público a participar nos diversos números, seja cantando, gritando, estalando os dedos ou simulando o vómito.

A loucura extravasa o palco; no final, o público é convidado a continuar com a festa na rua! Na sexta-feira um rebanho de gente seguiu os dois para o meio da Avenida da Liberdade, para cantar Bob Marley misturado com o Tiro Liro Liro. Até houve arrumadores de carros entrando na festa.

Cada vez me convenço mais que o teatro é a mais nobre forma de representação; por mais que ame o cinema, e que um grande filme me absorva, o feeling de assistir a uma boa peça é incomparável.

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Gota d’Água

Extraordinário, maravilhoso.

Diferente da Ópera do Malandro: mais forte, mais pesado, a carga emocional que a música emprega é mais intensa, não fosse ele baseado numa tragédia grega (Medeia, de Eurípides).

Ainda estou pensando como é que a Izabella Bicalho, daquele tamaninho, consegue ter um vozeirão daqueles.

Não que restassem dúvidas: Chico Buarque é o maior génio musical que existe.

Quando o meu bem querer me vir
Estou certa que há de vir atrás
Há de me seguir por todos
Todos, todos, todos os umbrais

E quando o seu bem querer mentir
Que não vai haver adeus jamais
Há de responder com juras
Juras, juras, juras imorais

E quando o meu bem querer sentir
Que o amor é coisa tão fugaz
Há de me abraçar com a garra
A garra, a garra, a garra dos mortais

E quando o seu bem querer pedir
Pra você ficar um pouco mais
Há que me afagar com a calma
A calma, a calma, a calma dos casais

E quando o meu bem querer ouvir
O meu coração bater demais
Há de me rasgar com a fúria
A fúria, a fúria, a fúria assim dos animais

E quando o seu bem querer dormir
Tome conta que ele sonhe em paz
Como alguém que lhe apagasse a luz
Vedasse a porta e abrisse o gás

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Gota d’Água

Tudo o que existir para ouvir, ler ou assistir e que esteja directa ou indirectamente relacionado com o Chico Buarque, eu devoro.

No dia 9 de Maio lá estarei no CCB; se tiver metade da qualidade da Ópera do Malandro, que teve cá em Lisboa há três anos, já sairei de lá cantando e rindo.

A música que dá o título (ou a música que o título deu):

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