Paternidade

Uma semana de Madalena

A 25 de Fevereiro de 2022, às 15h51, nasceu Madalena.

Desta vez, aconteceu no Hospital da Luz. Desta vez, o assento de nascimento leva o local de residência e não o do Hospital, que não fazia sentido que a minha filha fosse natural de Carnide, nas imediações do… Colombo. Margem sul, sempre.

Brincadeiras à parte, não é que não tenhamos sido bem tratados no Garcia da Orta em ambos os nascimentos anteriores, mas nos dias de hoje faz diferença ter um pouco mais de atenção e tranquilidade, que tivemos, sem mácula, no Hospital da Luz.

Tranquilidade é mesmo a palavra adequada, pois não só o parto foi o mais tranquilo e rápido dos três, como a Madalena tem sido uma bebé super pacífica nessa semana e uns dias de vida e de charme que já leva.

Ainda assim, confesso que ainda chorei mais, desta vez. É verdade que muita coisa fica mais fácil com a experiência. Mas não sei se pelo estado actual do mundo, pelo meu próprio estado, pela expectativa da convivência com os irmãos (que a veneram, ambos!), ou se por tudo isso e algo mais somado, o impacto e a emoção de trazer mais uma vida ao mundo, só aumentam.

Três sempre foi um número que esteve nas nossas cabeças. Até ver, é a última.

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2 anos

Há dois anos pai de dois.

Pai de uma, pai de um. Pai de loira e de moreno. Pai de olhos verdes e olhos castanhos.

Pai de mais velha e de mais novo. Pai de quem já estava e de quem, sendo único, nunca soube o que é ser o único.

Pai de quem se ama de paixão e de quem briga a todo o momento. Pai de quem quer ora as mesmas coisas, ora exactamente opostas.

Pai de quem se apegou a quem chegou de rompante, e de quem conquistou de imediato o seu espaço.

Pai, de quem faz valer a pena ser (pai).

Parabéns e obrigado ao (por enquanto) último dos Cardosos.

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PTI – Púrpura Trombocitopénica Idiopática

Pensei bastante antes de escrever isto; ainda não me sinto totalmente confortável a expor esta situação, mas resolvi fazê-lo porque é uma doença bastante chata e angustiante para os pais de uma criança que a tenha, e ajuda sempre ouvir ou ler o relato de alguém que já tenha passado pelo mesmo (não é à toa que os posts mais lidos deste blog são, de longe, sobre as cirurgias que fiz).

Há pouco mais de um mês atrás a Carolina começou a ter várias nódoas negras pelo corpo, sem motivo aparente. Eu confesso que inicialmente não dei muita relevância, mas a mãe (e mãe é mãe…) achou logo a coisa estranha e como foram sendo mais frequentes e em sítios menos propensos a quedas e lesões, fomos até ao hospital ver o que poderia ser.

Além das nódoas, haviam também uns pequenos pontinhos vermelhos que não tínhamos reparado e que aprendemos que eram petéquias. Dados estes sintomas, fizeram-lhe análises ao sangue, onde se percebeu que o nível de plaquetas que ela tinha era muito baixo (24000 por mm cúbico, inicialmente).

Estando os restantes parâmetros normais, este quadro configura um diagnóstico de Púrpura Trombocitopénica Idiopática, que é algo relativamente raro e um palavrão que assusta qualquer um, ainda mais por ser uma doença que não tem causa conhecida (é isso que significa o “Idiopática”), e cujo sintoma principal (o número baixo de plaquetas) é partilhado por uma série de doenças bem mais graves, como a Leucemia. Além disso, nesta fase inicial não descartam de imediato estas possibilidades; é um diagnóstico por exclusão, em que nos dão a hipótese PTI com uma probabilidade elevada mas sem a certeza absoluta.

Trocando por miúdos, por algum motivo qualquer o sistema imunitário baralha-se e além destruir as coisas más, destrói também as plaquetas. Uma quantidade diminuta de plaquetas é perigosa no sentido em que qualquer hemorragia que tenha pode tornar-se complicada, e nesse sentido é necessária uma vigilância redobrada sobre a criança. Falo em crianças porque é a nossa realidade, mas é uma doença que também pode afectar adultos.

Inicialmente, avaliam a evolução da quantidade de plaquetas para ver se o organismo reage por si ou se é necessário algum tratamento. Ela começou com as tais 24000 e continuou a baixar para 16000 no dia seguinte e 8000 passados dois dias, o que já é um valor ainda mais arriscado, pelo que começou tratamento com corticóides, em casa.

Na reavaliação seguinte, ela já tinha 35000, o que significava que o organismo tinha reagido aos corticóides, mas assim que parou de tomá-los, uns dias depois, baixou rapidamente para os 8000, na semana seguinte. As nódoas que já desapareciam voltaram num instante, e confirmando-se que ela continuava numa fase aguda optaram por partir para o tratamento com Imunoglobulina, via intravenosa, feita em internamento, no hospital.

Na passada quarta-feira, cinco dias depois do tratamento, verificou-se que ela estava com um nível de 175000, o que já é um valor bastante bom. Está longe de significar que o problema esteja resolvido; a PTI é algo que pode demorar meses ou até um ano a ficar resolvida, sendo que não se trata da causa em si, vai-se aumentando artificialmente o número de plaquetas até o sistema imunitário voltar ao normal, por si mesmo. Daqui a duas semanas lá estaremos novamente para ver como a coisa evoluiu, e fazer o que for necessário para controlá-la.

Deixo uma nota de apreço para a pediatria do Hospital Garcia de Orta e em particular para a Drª Sofia Fraga, que a tem acompanhado e tem sido espectacularmente atenciosa e prestável. Tivemos algum receio em tratar disto no HGO, pois tínhamos tido uma má experiência por lá há uns anos atrás, mas tanto a médica que já referimos quanto as enfermeiras e todo o staff do Hospital de Dia da Pediatria tem sido absolutamente impecáveis ao longo deste processo, ao ponto dela ter preferido ficar por lá algum tempo a brincar do que voltar logo para casa, da última vez em que lá estivemos.

Mas a verdadeira campeã tem sido mesmo a Carol, que apesar de tanto massacre nas veias e medicações desagradáveis tem mantido sempre uma boa disposição surpreendente e uma colaboração que nem se fala. Uma mulher.

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4 Anos

Há quatro anos atrás, era tudo bem mais simples. Havia mais tempo, menos preocupações, poucas dúvidas e incertezas.

Não havia quem gritasse em desespero “pai!” às duas e meia da manhã, nem quem me obrigasse a dançar quando chegava do trabalho, pronto para me esticar no sofá. Não via os mesmos desenhos animados nem lia as mesmas histórias trezentas. vezes. seguidas.

Ninguém esperava obter de mim as respostas para tudo o que é imaginável perguntar, nem inquiria em seguida o porquê do porquê do porquê, e porquê.

Preocupava-me pouco a estupidez humana ou o futuro do planeta, e compadecia-me menos, fosse com o que fosse.


O tudo que era mais simples, perderia hoje a graça, de tão menos desafiante. O tempo a mais seria em vão, pois não mais teria como preenchê-lo, de forma tão veemente.

Não haveria quem me emocionasse de tal modo, com gestos tão pequenos, nem que me surpreendesse tanto e tão frequentemente, de todas as maneiras.

Ninguém me obrigaria de forma tão latente a desconhecer os meus limites e a dar diariamente o melhor de mim.

Preocupar-me-ia mais com pormenores somenos, e julgar-me-ia mais forte, sendo no entanto mais vácuo.


Só voltaria há quatro anos atrás se fosse para te trazer ao mundo outra vez.

Parabéns e mais uma vez, obrigado. O mano também agradece, pois só o tornaste ainda mais desejado.

 

 

 

 

 

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À Procura de Dory

A minha primeira ida ao cinema foi tão memorável que sou o único da família a lembrar-me dela, apesar de ter, na altura, mais ou menos a idade que a Carolina tem agora. Fui ver os Tartarugas Ninja, de 1990, ainda no Brasil. Lembro que quando entrei na sala fiquei absolutamente embasbacado com o tamanho do ecrã, e que já na altura odiei o facto da minha mãe ter o péssimo hábito de falar muito durante todo o filme.

Faço esta introdução porque é a primeira vez que escrevo aqui sobre uma ida ao cinema em que o filme em si assume um papel secundário; o protagonismo aqui vai todo para o momento pelo qual eu esperava ansiosamente há mais de três anos: o primeiro contacto da Carol com a magia do cinema.

Não que o filme não seja bom, porque apesar de jogarem mais ou menos pelo seguro e a coisa acabar por pender mais para a rentabilização do franchise do que para o brilhantismo, a Pixar não desilude e consegue cumpre bastante bem o papel de entreter-nos, acrescentando pelo meio uma personagem que rouba completamente o protagonismo dos ditos principais: o polvo Hank.

Voltando à Carol, ainda antes dela nascer já eu imaginava como seria essa primeira vez no cinema, e se ia conseguir incutir-lhe ou não essa paixão. Obviamente que esta segunda parte ainda está por comprovar, mas valeu bastante a pena e espero que também lhe tenha ficado na retina.

Inicialmente ela quase nem pestanejava, num misto de perplexidade e desconfiança, motivada principalmente pelo turbilhão de trailers com que se deparou e que a levaram a perguntar mais que uma vez, quase em desespero: “então e a Dory?”.

Um dos nossos medos era que ela nem sequer aguentasse o filme até ao fim, mas apesar de a determinada altura ter ficado agitada, com o intervalo a coisa acalmou e trouxe ainda mais contentamento; à medida que o filme foi chegando ao clímax, ela foi se entusiasmando cada vez mais, dando aquelas sorrisos bem rasgados acompanhados de olhares de aprovação que confirmaram o sucesso da coisa e me fizeram ganhar o dia.

Agora é continuar a alimentar a chama e, mais uma vez, esperar ansiosamente que chegue também a vez do Francisco.

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Um Ano

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Faz hoje precisamente um ano que nos tornamos quatro. Tudo aquilo que vivemos facilmente se transforma numa aventura; nem sempre no bom sentido, mas cada vez faz mais sentido viver.

É óbvio que a chegada do segundo filho já nos encontra com mais estaleca no que à paternidade diz respeito, mas a realidade é que nunca estamos verdadeiramente preparados para tudo aquilo que vamos viver, e isso é fascinante.

O Francisco tem sido mestre em surpreender-nos praticamente desde que nasceu. Primeiro, na parte física, que em muito pouco ou nada se assemelha à irmã. Depois, em tudo o resto, onde as diferenças se tornam ainda mais vincadas. Um exemplo simples: comida. O que a Carolina encara como um sacrifício, ele mostra-se capaz de devorar este mundo e o outro. E por aí vai.

Mesmo com todo a logística que aumenta e com o descanso que escasseia (ainda mais), não há melhor presente para dar a uma criança do que um irmão, e o Francisco tem sido um irmão espectacular. Apesar de diferentes, eles são complementares e muito semelhantes na forma como nos desarmam e nos tem completamente nas mãos.

Talvez pela própria convivência com a mais velha, parece-nos que a desenvoltura dele tem evoluído com maior velocidade. É o chamado “fazer pela vida”. Ela alterna momentos de super-protecção em relação ao irmão com rasgos de ódio e de nunca mais o querer ver à frente. Ele consegue ser a criatura mais meiga do mundo e a mais bruta ao mesmo tempo; faz tudo com um sorriso enorme na cara, mas tão facilmente nos brinda com uma gargalhada quanto nos prega uma bofetada logo em seguida.

Costumamos dizer na brincadeira que ele é o último dos Cardosos. Do lado paterno, o meu avô teve quatro filhos, sendo dois deles homens e um destes o meu pai. O meu tio só concebeu meninas e, de homem, o meu pai só tem a mim.

Não tenho como prever o futuro, mas sinto que os Cardosos estarão sempre muito bem representados.

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Três anos

Há três anos atrás nascia aquela que é hoje “a minha mais velha”, e nada me proporciona maior orgulho do que ver como ela evoluiu desde então.

Obviamente nem tudo são rosas. Este período entre os dois e os três anos foi definitivamente o mais desafiante até agora. A maior compreensão de tudo o que lhe rodeia conjugada com a capacidade de argumentar e o crescimento exponencial da vontade própria são uma combinação explosiva, materializada frequentemente nas mais poderosas birras. Há que saber aguentar e aprender a lidar com elas, pois tão depressa aparecem quanto passam. Mas moem!

Ainda se atrapalha com algumas palavras, mas em geral tem já um vocabulário muito rico. Não podemos nos descuidar um segundo na sua presença, pois absorve tudo com uma facilidade incrível. Basta ouvir uma vez para entrar no seu repertório. De vez em quando surpreendemo-nos (apesar de tentarmos não demonstrá-lo) com uma ou outra asneira que apanha no ar. Já a vi, por exemplo, a dizer “benfica”.

Tenta ser o mais independente possível, e gaba-se com muito ênfase quando não precisa de nós para alguma coisa, seja vestir, montar um puzzle ou simplesmente meter o cinto de segurança no carro.

Desde sempre soube manipular-me, mas tem aprimorado com cada vez mais requinte essa arte. É “minha fofurinha” para aqui, “meu pai lindo amor” para ali, “somos muito amigos não somos pai?” acolá, e é ver o idiota derreter-se todo a seus pés. Fácil.

Está a 200% na fase dos porquês. Dá-me muito prazer puxar pela sua imaginação e tentar responder a todos até à exaustão, mas na maior parte das vezes acaba por ser do meu lado que esta aparece. Agrada-me que ela questione tudo, e espero que mantenha o hábito para o resto da vida (na devida proporção).

Se me estiveres a ler daqui a uns anos, espero que tenhas mantido também viva a curiosidade, o sentido de humor e a vontade de viver tudo intensamente. E que me continues a ter em conta como um amigo.

Obrigado, por acrescentares vida aos anos que passam.

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6 Meses

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Pisquei os olhos e seis meses se passaram desde que “o meu mais novo” nasceu.

Continua com uma simpatia desgarrada, mas alterna cada vez mais frequentemente com momentos de “indignação”, em que gesticula veementemente e brada não sei bem o quê, com a sua voz grossa de homem em ponto pequeno.

Ainda não se senta sozinho, mas adora estar sentado. Adora também demonstrar força projectando o corpo para frente e para trás, principalmente quando está imobilizado, do estilo “ninguém me consegue parar”.

Apesar de já demonstrar preferência clara por um ou outro desenho animado, não tem especial simpatia pelos brinquedos que lhe metemos à frente, preferindo sempre coisas mais banais que tenhamos em casa. Ou que tenhamos na cara, como os meus óculos, que gosta de arrancar da forma mais meiga que consegue, ou seja, de uma assentada e à bruta.

A alimentação já vai sendo mais variada, e tipicamente marcha tudo o que lhe metemos à frente. Tem 67 cm e 7800 g, o que nos parece uma imensidão ao comparar-mos com a irmã na mesma idade.

A irmã, essa, continua a ser a sua paixão. Pode ser simpático para a maioria das pessoas, mas guarda para ela os melhores sorrisos e gargalhadas, que dispara automaticamente, só dela olhar.

E a partir daí pronto, esquecemos de tudo.

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13 Semanas

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O tempo segue voando de forma implacável, e o Francisco já leva três meses de mundo e 6200g no lombo, bem distribuídos ao longo de 61cm.

Sorrir, sorrir, sorrir, continua a ser aquilo que ele mais faz, para qualquer pessoa, em qualquer situação, a qualquer hora. É uma disposição que impressiona e contagia.

Apesar de tamanha simpatia, não dá as melhores noites do mundo. Também não dá as piores, pois não é de chorar para além da fome, mas é de uma inquietação tremenda. Corre uma maratona à noite sem sair do lugar.

Fora isso é um bebé fácil, por ora, e aparentemente rijo. Já estivemos todos doentes nestas férias menos ele, e aguentou os passeios que fizemos como se nada fosse.

Muitos mais haverá de fazer, e muito mais haveremos de sorrir a seu lado.

 

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9 semanas

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Dois meses e pouco de Francisco no mundo correspondem a muitas alterações na sua pequena pessoa.

Eu disse no último post que ele tinha começado a distribuir sorrisos, e assim continuou, com frequência e para quem quer que seja. Tem uma simpatia que não faço ideia onde foi buscar.

Também adora palrar, de um jeito tão compenetrado que parece mesmo que está mantendo uma conversa fluída sobre um assunto qualquer.

Já tem idade para nos surpreender. Na última consulta com o pediatra, ele perguntou-nos se o Francisco já se virava sozinho, ao que respondemos negativamente. Foi só colocar o gajo de barriga para baixo e fazê-lo olhar para o outro lado que estava dada a primeira volta.

Andou com umas cólicas chatas, o que é novidade para nós, mas parece tê-las deixado para trás, com uma pequena ajuda do Colimil.

Tem mais força do que esperamos, e quando está acordado (e às vezes também enquanto dorme), não pára de se movimentar, de olhar para todo o lado, de querer se mexer a sério.

Quanto mais trabalho dá, mais gostoso fica!

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