Leituras

Grande Sertão Veredas

Grande sertão, enorme livro. É a primeira vez que é editado em Portugal, é um clássico que me faltava, e é talvez o livro em língua portuguesa que mais me tenha impressionado até hoje. Vai me levar com certeza a mergulhar mais a fundo na obra do autor, João Guimarães Rosa.

O livro conta a história do jagunço Riobaldo, ao mesmo tempo narrador e protagonista, e tem como cenário o sertão brasileiro, os trilhos do gado e a relação diferenciada do herói (?) com outro jagunço, Diadorim.

Uma das coisas que mais impressiona é mesmo a falta de limites e regras na linguagem; não é um português “puro”, mas um português do Brasil e do sertão profundo, nunca deixando ainda assim de soar a erudito. Parece estranho, porque verdadeiramente é!

A segunda é a capacidade de imaginação e de convergência de tantas estórias, culturas, crenças, locais, saberes, descritos de forma tão minuciosa que é difícil acreditar que o homem não tenha de facto vivenciado o sertão no meio dos jagunços que descreveu.

Finalmente, é impressionante que tenha sido escrito em 1956, de tão revolucionário na forma e no conteúdo que é (até laivos de conteúdo “Brokeback Mountain” a coisa tem).

As páginas finais desta edição portuguesa da Companhia das Letras são dedicadas a um resumo cronológico da biografia do autor, não menos impressionante. Erudito desde tenra idade, formado em medicina e com uma carreira em diplomacia que o levou a passar pela Alemanha durante a Segunda Guerra (e a salvar alguns judeus pelo caminho, à la Aristides), teve a vida e a carreira literárias interrompidas demasiado cedo, aos 59 anos, pouco depois de ter sido indicado ao prémio Nobel da Literatura.Viesse ou não a ganhá-lo um dia, com certeza ficamos mais pobres com o seu desaparecimento.

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