Paternidade

PTI – Púrpura Trombocitopénica Idiopática

Pensei bastante antes de escrever isto; ainda não me sinto totalmente confortável a expor esta situação, mas resolvi fazê-lo porque é uma doença bastante chata e angustiante para os pais de uma criança que a tenha, e ajuda sempre ouvir ou ler o relato de alguém que já tenha passado pelo mesmo (não é à toa que os posts mais lidos deste blog são, de longe, sobre as cirurgias que fiz).

Há pouco mais de um mês atrás a Carolina começou a ter várias nódoas negras pelo corpo, sem motivo aparente. Eu confesso que inicialmente não dei muita relevância, mas a mãe (e mãe é mãe…) achou logo a coisa estranha e como foram sendo mais frequentes e em sítios menos propensos a quedas e lesões, fomos até ao hospital ver o que poderia ser.

Além das nódoas, haviam também uns pequenos pontinhos vermelhos que não tínhamos reparado e que aprendemos que eram petéquias. Dados estes sintomas, fizeram-lhe análises ao sangue, onde se percebeu que o nível de plaquetas que ela tinha era muito baixo (24000 por mm cúbico, inicialmente).

Estando os restantes parâmetros normais, este quadro configura um diagnóstico de Púrpura Trombocitopénica Idiopática, que é algo relativamente raro e um palavrão que assusta qualquer um, ainda mais por ser uma doença que não tem causa conhecida (é isso que significa o “Idiopática”), e cujo sintoma principal (o número baixo de plaquetas) é partilhado por uma série de doenças bem mais graves, como a Leucemia. Além disso, nesta fase inicial não descartam de imediato estas possibilidades; é um diagnóstico por exclusão, em que nos dão a hipótese PTI com uma probabilidade elevada mas sem a certeza absoluta.

Trocando por miúdos, por algum motivo qualquer o sistema imunitário baralha-se e além destruir as coisas más, destrói também as plaquetas. Uma quantidade diminuta de plaquetas é perigosa no sentido em que qualquer hemorragia que tenha pode tornar-se complicada, e nesse sentido é necessária uma vigilância redobrada sobre a criança. Falo em crianças porque é a nossa realidade, mas é uma doença que também pode afectar adultos.

Inicialmente, avaliam a evolução da quantidade de plaquetas para ver se o organismo reage por si ou se é necessário algum tratamento. Ela começou com as tais 24000 e continuou a baixar para 16000 no dia seguinte e 8000 passados dois dias, o que já é um valor ainda mais arriscado, pelo que começou tratamento com corticóides, em casa.

Na reavaliação seguinte, ela já tinha 35000, o que significava que o organismo tinha reagido aos corticóides, mas assim que parou de tomá-los, uns dias depois, baixou rapidamente para os 8000, na semana seguinte. As nódoas que já desapareciam voltaram num instante, e confirmando-se que ela continuava numa fase aguda optaram por partir para o tratamento com Imunoglobulina, via intravenosa, feita em internamento, no hospital.

Na passada quarta-feira, cinco dias depois do tratamento, verificou-se que ela estava com um nível de 175000, o que já é um valor bastante bom. Está longe de significar que o problema esteja resolvido; a PTI é algo que pode demorar meses ou até um ano a ficar resolvida, sendo que não se trata da causa em si, vai-se aumentando artificialmente o número de plaquetas até o sistema imunitário voltar ao normal, por si mesmo. Daqui a duas semanas lá estaremos novamente para ver como a coisa evoluiu, e fazer o que for necessário para controlá-la.

Deixo uma nota de apreço para a pediatria do Hospital Garcia de Orta e em particular para a Drª Sofia Fraga, que a tem acompanhado e tem sido espectacularmente atenciosa e prestável. Tivemos algum receio em tratar disto no HGO, pois tínhamos tido uma má experiência por lá há uns anos atrás, mas tanto a médica que já referimos quanto as enfermeiras e todo o staff do Hospital de Dia da Pediatria tem sido absolutamente impecáveis ao longo deste processo, ao ponto dela ter preferido ficar por lá algum tempo a brincar do que voltar logo para casa, da última vez em que lá estivemos.

Mas a verdadeira campeã tem sido mesmo a Carol, que apesar de tanto massacre nas veias e medicações desagradáveis tem mantido sempre uma boa disposição surpreendente e uma colaboração que nem se fala. Uma mulher.

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One thought on “PTI – Púrpura Trombocitopénica Idiopática

  1. Fernando says:

    Tema relevante, tenho 38 anos,diagnosticado em 2015 com PTI..idas e vindas aos hospitais e cuidado redobrado na hora de tratar uma simples dor de garganta,de cabeça, e outras,maioria dos medicamentos causa baixa de plaquetas.Meu corpo reagi ao corticoide,fico meses sem sintomas de PTi(petequias),Mas é cansativo,deixa a gente ansioso,com medo.To fazendo tratamento no momento hospitalizado,proximo passo deve ser imonoglubilna,transfusao de plaquetas e ate remoçao do baço..Que Deus nos auxilei e dê forças no tratamento e na cura divina.

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