Andanças

Northern Ireland

Aproveitei uma nesga de bom tempo no passado fim-de-semana para conhecer finalmente o país do “lado” de cima aqui da República, a Irlanda do Norte.

O meu speed tour focou três dos pontos principais do país: a incontornável e outrora problemática capital, Belfast, a ponte de cordas conhecida como Carrick-a-Rede Rope Bridge, e o conjunto de rochas de basalto conhecido como Giant’s Causeway.

Utilizei pela primeira vez um dos autocarros verdes da Paddywagon Tours, que não me desapontou. O conceito é low cost mas os condutores (a julgar pelo que me guiou) são bastantes versados em história e em estórias.

A capital foi onde tive menos tempo para gastar, mas não é preciso vaguear muito para nos depararmos com uma boa quantidade dos célebres murais que a preenchem. Ainda que maioritariamente políticos, são quase todos muito belos, ou pelo menos interessantes do ponto de vista artístico. Cada canto de cada rua tem também alguma história escondida. Grande parte das vezes de sangue, infelizmente.

Segundo consta o novo museu do Titanic também é muito bom, mas o tempo escasseou para visitá-lo. Contentei-me em comprar uma t-shirt “TITANIC, built by Irishmen, sunk by an English man”.

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A ponte de cordas que liga Ballintoy à pequena ilhota de Carrick-a-Rede pode ser de facto assustadora (nunca morreu lá ninguém à parte de um pobre cão), mas bastante mais pequena do que as fotografias aparentam. Em compensação, a beleza envolvente é ainda mais surpreendente do que nas imagens. Num dia bom, e no sábado foi um desses raros dias, é possível ver a Ilha Ratlhin e parte da Escócia.

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Relativamente a Giant’s Causeway, segundo reza a lenda, o lugar foi erguido por um gigante chamado Finn MacCool, que por lá habitava com a sua mulher, Oonagh (leia-se Una). Esse gigante desafiou outro gigante, escocês, de seu nome Benandonner, para vir até ao seu terreno medir forças, fazendo o tal caminho de pedras para que o rival pudesse lá chegar. No entanto, quando este se aproximou, o irlandês apercebeu-se que afinal o escocês era bem maior do que ele julgava.

Basicamente o Finn MacCool ficou todo borrado, mas a sua bela Oonagh teve uma ideia: disfarçou-o com roupas de bebé e deitou-o na cama. O outro gigante, ao chegar e deparar-se com o suposto filho do MacCool daquele tamanho, julgou que se a criança era assim, o pai seria então o gigante dos gigantes, o pica das galáxias, e fugiu, destruindo durante a fuga o caminho por onde tinha lá chegado.

Obviamente a causa real foi a actividade vulcânica que por lá sucedia há milhões de anos atrás, mas a lenda gera boas conversas e muito merchandising.

Resumindo e concluindo, agora que os Troubles passaram e a paz tem imperado, vale muito pena conhecer este pedaço do Reino Unido, tanto pela beleza quanto pelo seu lado histórico.

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Leituras

A rainha Ginga

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A rainha Ginga: E de como os africanos inventaram o mundo é um romance histórico baseado em parte do percurso de vida e de luta da rainha Ginga, provavelmente a figura mais marcante e emblemática da história de Angola, Angola essa que na altura ainda nem o era.

Ouvi uma entrevista do autor há tempos em que ele dizia que sempre quis escrever esta história e que provavelmente tornou-se escritor precisamente para um dia fazê-lo, mas que durante muito tempo não teve coragem para tal. Em boa hora a encontrou, pois se é efetivamente uma história grandiosa. Agualusa era e foi o escritor indicado para transpô-la em romance.

Além de se notar que foi feito um grande esforço de investigação para manter ao máximo a verosimilhança dos fatos (o que é complicadíssimo dado o período abordado), há sempre aquele salpico de misticismo por toda a parte tão próprio e tão único dos escritores africanos.

A aura de grandeza da Rainha, ou Rei, como ela preferiria, é ainda ampliada pelo facto da história não ser narrada pela própria, mas sim por um padre pernambucano (e jesuíta, e mestiço, e indígena, e muitas outras coisas mais) que serviu de seu secretário e tradutor, e também de tradutor e de elo de ligação entre nós, os leitores, e os diversos mundos que vamos descobrindo à medida que vamos avançando.

Fica a curiosidade de saber mais do percurso anterior e posterior da Rainha ao período retratado, bem como de diversos personagens com o qual o seu destino se entrelaçou. Antevejo bastantes devaneios na Wikipedia nos próximos tempos.

Deixo aqui uma das citações que mais me marcaram no livro, de tão simples parece, mas que tanta força carrega: “Há mentiras que resgatam e há verdades que escravizam”. Excelente leitura.

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Notícias

Timing

Cada vez mais penso que muito daquilo que define a nossa vida é o timing. Há oportunidades que se trabalham e se procuram, mas há outras em que é apenas questão de estar no lugar certo na hora certa.

Podemos ter a melhor ideia do mundo e executá-la da forma mais brilhante, mas se ela não for enquadrada no momento exato, nada feito. Dois exemplos recentes de timing negativo, bem distintos:

Dilma Rousseff. Ano de Copa, ano de eleições. Antes do evento começar, embalada na fé e confiança cegas no talento do eterno “futebol-arte” da seleção canarinha, Dilma larga essa tirada:

“Meu Governo é Padrão Felipão.”

De louvar a ousadia e o risco, mas obviamente arrumou lenha para se queimar (mais ainda) perante os adversários e o eleitorado. Tentou se distanciar da seleção (e da Copa) depois, mas o mal estava feito.

David Duchovny, ator conhecido por encarnar o Agent Mulder dos X-Files e mais recentemente Hank Moody da série Californication. Americano de gema, mas com raízes soviéticas por parte do pai, aceita embarcar num anúncio de uma marca cerveja que especula como teria sido sua vida se ele tivesse nascido russo.

O anúncio é brilhante, mas o timing é o pior possível: o pai dele emigrou para a América a partir de Kiev, na …  atual Ucrânia, claro, não Rússia. O que seria um não assunto (exceto para os ucranianos) há pouco tempo atrás, é um golpe na imagem do ator na atualidade (ou até é positivo, se analisarmos pela ótica do falem bem ou falem mal mas falem de mim).

Não sei o segredo para um timing no ponto, mas penso ser uma mistura de preparo, faro e sorte, em proporções que gostava de conhecer ao certo. Mas penso que até nem tenho andado assim tão longe delas.

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