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Preservando a Memória

Nos últimos meses, nos (poucos) tempos livres que me sobravam, vinha me dedicando à hercúlea tarefa de digitalizar o arquivo fotográfico cá de casa.

Mais do que digitalizar (que é já de si um pincel enorme), o que deu verdadeiramente um trabalho do caraças foi organizar; quase nada tem legendas, ninguém chega a consensos quanto a datas, grande parte dos visados estão do outro lado do atlântico… porque é que não inventaram as máquinas digitais mais cedo?

Eu só queria tornar público o fruto deste trabalho quando tudo estivesse digitalizado, mas visto que já tenho uma quantidade considerável de fotos, mas outras tantas estão na calha e o tempo é escasso, aqui vai um cheirinho. Aos poucos irá sofrendo as devidas actualizações.

Já posso dormir mais descansado!

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Sonoridades

Seu Jorge and Almaz

Nem sei bem como encontrei este projecto paralelo (mais um) do Seu Jorge com Nação Zumbi; não me parece que venha sendo muito divulgado (por enquanto parece que é só pelos States), mas é valioso.

Não conheço bem o trabalho dos Nação Zumbi, e aquilo que eu conheço já é anterior à morte do antigo vocalista Chico Science, portanto é uma situação a corrigir.

Todas as músicas do álbum são versões de outros autores, com arranjos completamente diferentes. A escolha das canções não segue nenhum critério aparente, incluindo músicos como Jorge Ben, Martinho da Vila, Altemar Dutra Michael Jackson e até Kraftwerk!

Tudo numa onda instrumental muito soft, o pessoal da Nação Zumbi criando um ambiente zen na guitarra, bateria e baixo (e uns pozinhos de berimbaus e afins pelo meio) e o Seu Jorge com aquele vozeirão soul dando nova alma às canções.

A menos conseguida talvez seja “Cristina”, do eterno e (literalmente) grande Tim Maia, mas isso é só a minha opinião. Já a escolha da última música é um tiro certeiro, rematando o álbum com “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho, uma daquela músicas que arrebata pela simplicidade, como eu gosto.

Isto ainda não tá suficientemente youtubado para eu poder demonstrar convenientemente, portanto aconselho que adquiram nos sítios do costume; de qualquer forma, vai aí um cheirinho em vídeo e em mp3, Everybody Loves the Sunshine e Cirandar, duas faixas cedidas gratuitamente pelos homens no site (a primeira até nem é das minhas preferidas, mas dá para sentir a onda).

E isso tudo me deixou vontade de um dia destes escrever mais sobre o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, temática recorrente na música e na cultura brasileira, e sobre Nelson Cavaquinho, grande e talvez esquecido compositor carioca. Fica pra pensar.

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Desportadas

Copa do Mundo e Professor Bronze

Não é imperdoável que eu, sendo o fanático por futebol que sou, só tenha vindo comentar a Copa do Mundo hoje, porque, sejamos honestos, até agora não se passou nada de verdadeiramente interessante.

As equipas estão todas a medo, os árbitros estão a dar cartões ao desbarato, aquela bola quando chutada parece as de plástico que compramos no Jumbo para curtir no verão e é chato que no primeiro mundial em África os dias sejam todos de São Ramalho.

Gostei do Brasil ter ganho mesmo que a passo, gostei de ver os espanhóis baixarem a garimpa, ainda que saiba que infelizmente eles vão dar a volta ao texto, gostei de ver o Tae-Se a falar português, e gostei imenso do filtro que a Meo arranjou para travar o ímpeto das vuvuzeladas: não sendo perfeito, facilita e muito a manutenção da sanidade que me resta.

Não há ainda um campeão ou campeões em perspectiva, mas palpito (e espero) que continue a tradição de nunca uma selecção europeia ter ganho um título mundial fora do velho continente.

Aos que ficaram extremamente frustrados com a prestação dos “navegadores” contra os costa-marfinenses, pergunto: estavam à espera do quê, exactamente?

Em vez de desenvolver o raciocínio acima e mergulhar na enxurrada de críticas que já foram feitas e refeitas, vou fazer uma coisa completamente diferente… vou defender aquele professor que se mantém à frente dos destinos da selecção portuguesa, sempre com um impecável bronze. Mas calma… vou defendê-lo, só que não na função que desempenha agora.

Queiroz é um gajo de mérito. Os dois únicos feitos que os comentadores gostam de lembrar, os títulos de sub-20 de futebol do início da década de 90, não foram tão pequenos quanto isso: ainda que tenham sido frutos de gerações brilhantes, outras houveram mais adiante que nem nos torneios de Toulon se safaram.

O gajo mudou a forma e os métodos de trabalhar e de encarar o futebol de formação. Do pouco que sei, creio que tenha igualmente feito parte das formações que iniciaram a emancipação dos treinadores portugueses. Foi dos primeiros a denunciar que era preciso “limpar a merda” que havia na federação. Foi o mentor de uma proposta de reestruturação de fundo do futebol dos EUA, cujo objectivo era alcançar o título mundial agora em 2010. Ainda que à partida esse objectivo máximo não vá ser alcançado, é sabido que o futebol dos yankees progrediu imenso, e parte desse sucesso consta que cabe ao homem.

Como treinador, nunca deu verdadeiramente certo. Falhou rotundamente no Sporting, bem como falhou no Real Madrid (não sendo este cemitério de treinadores grande exemplo). Obteve sucesso enquanto fiel escudeiro de sir Alex em Manchester, mas lá está, numa função que não a que considera a sua, um trabalho importante, mas de backstage. Não tem carisma, não aparenta ter pulso ou mão nos seus jogadores, e peca tanto por opções absurdas quanto por muitas vezes, simples falta de tomates.

O que eu quero dizer é que o homem é bom, eventualmente muito bom profissional, mas não enquanto treinador. Há teóricos muito bons que nunca o serão na prática, e isto é tanto verdade no mundo académico quanto no futebolístico. Faz falta como manager, director geral ou raio que o parta, a estruturar a coisa com as suas comprovadas capacidades organizacionais, a fazer valer os seus pergaminhos de professor, e nada que ele ainda possa vir a fazer neste mundial há-de me levar a ter opinião em contrário, dado tudo o que já se passou (falo de jogo, pré-jogo, convocatória, qualificação…).

Tenho dito.

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Teatradas

Commedia à La Carte

Estes gajos só vão estar até dia 20 de Junho no Villaret, mas não é tarde recomendá-los, porque eles hão-de estar aí em cartaz em mais locais.

Estivemos no espectáculo de ontem e saímos de lá com um cansaço abdominal do caraças. Commedia à La Carte é um espectáculo de humor de improviso, em que os actores vão pedindo ao público para sugerir personagens, frases, letras do alfabeto e vão magicando sketches a partir quase do nada. É claro que isto nunca é improviso puro, até por que os anos que já levam “de estrada” confere-lhes um traquejo enorme, mas é preciso muito, muito talento para conseguir levar a cabo uma coisa destas, e sempre com piada. De um segundo para o outro eles conseguem transformar-se em personagens completamente diferentes, e (quase) sempre sem perder a postura. Não é a apenas a representação, mas o aproveitar de todas as deixas do público, o espaço, os sons, tudo.

Inicialmente tinha um certo preconceito em relação ao César Mourão, gajo dos programas da manhã e não sei o quê… parvoíce, é mesmo um grande talento que anda por aí “perdido”, e aqui há mérito da Irina em ter me chamado a atenção para esse aspecto; ao Ricardo Peres e ao Carlos M. Cunha nem sequer conhecia, e fiquei surpreso principalmente com o último, de um humor literalmente agressivo, sem pejo de ameaçar ou insultar o público a toda a hora.

Às quintas eles costumam ter um convidado especial para improvisar no fim: ontem foi o Eduardo Madeira, na próxima semana será o Aldo Lima.

Noite bem passada e dinheiro bem gasto. Ide.

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Cinemadas

Taken

Bom, eu ia começar por dizer que ontem à noite não tinha nada para fazer e fui ver um filme, mas não é verdade: ontem à noite estava desgastado e não me apetecia fazer nada; assim sendo, aproveitei e vi um dos milhentos filmes que estão aqui na lista de espera do meu clube de vídeo pessoal. Valeu a pena: este Taken é um filme de acção do caralho, sem grandes rodriguinhos nem pretensiosismo.

Não é propriamente um papel em que imaginasse o Liam Neeson, mas assenta-lhe que nem uma luva. O homem é Bryan Mills, antigo agente do governo (nunca se revela bem ao certo o que fazia, nem interessa muito), divorciado, que se aposentou para passar mais tempo perto da sua filha de 17 anos.

Os primeiros momentos do filme são passados na vivência do drama familiar, da angústia do pai que não acompanhou o crescimento da filha, o consequente afastamento entre os dois e tudo mais. Às tantas a sua filha decide viajar para Paris com a melhor amiga, e é aí que a porca torce o rabo: o apartamento onde elas estão é invadido por mafiosos albaneses que as raptam com o objectivo de fazerem tráfico sexual. O azar deles é que o cota estava com a filha ao telefone nesse preciso momento, e parte para França com o objectivo de encontrá-la e de eliminar todos os responsáveis.

E a partir daí é um festival de acção pura, é ver o homem partir a boca a toda a gente a todo o instante, à moda de Charles Bronson ou Steven Seagal (eu ia dizer do Bourne do Matt Damon, mas esse menino não lhe chega aos calcanhares), e sempre com muita, muita classe.

Logo de início ele apercebe-se que só tem cerca de 96 horas para encontrá-la, e utiliza de todos os meios para fazê-lo: é vê-lo a bater indiscriminadamente nos franceses e soviéticos que se atravessam pelo caminho, roubar carros, matar (nunca levando armas, tirando as dos que vai tombando), torturar e até maltratar famílias alheias. Há momentos à lá CSI que irritam-me sempre um bocado, mas tou-me a cagar.

Sem nunca pretender ser demasiado profundo, todo o submundo do tráfico sexual percorrido chega a dar que pensar no que se passa aí pelo mundo afora. O que vale é que há gajos como o Liam Neeson que se for preciso deitam um país abaixo com as próprias mãos. Ou não.

Sem desprimor para o realizador oficial Pierre Morel, o Luc Besson quando quer faz umas coisas bem jeitosas.

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