Sonoridades

Três Cantos

rc72467ritacarmo-a860

Acho que ainda gostei mais deste espectáculo do que estava à espera.

Nunca tinha visto nenhum dos três ao vivo. Acho que tinha um certo medo. Sem grandes rodeios, medo da velhice deles. Mas é muito diferente ser do passado, e ser intemporal.

As vozes são as mesmas e, principalmente, o gosto de ali estarem a cantar é o mesmo. O Zé Mário Branco disse que a única coisa que poderia dizer era: “estou tão contente”. E estava. Poucas pessoas se entregam a cantar com tanta emoção como este senhor: parece que o mundo vai acabar a qualquer momento.

Sérgio Godinho igual a si mesmo, fresquíssimo, tremendamente à vontade a brincar com as palavras e com o momento, e a ser o primeiro a arrepiar com “O Primeiro Dia”.

Não conhecendo bem as obras mais recentes do Fausto, fiquei contente de ver que ele mantém a língua afiada (sempre a contrastar com a suavidade da voz). Mas o que realmente me encheu as medidas foi ouvir “Como um sonho acordado”. A simplicidade destes versos assombra:

“Meu amor quando eu morrer
Ó linda
Veste a mais garrida saia
Se eu vou morrer no mar alto
Ó linda
Eu quero ver-te na praia
Mas afasta-me essas vozes
Linda

Tens medo dos vivos
E dos mortos decepados
Pelos pés e pelas mãos
E p’lo pescoço e pelos peitos
Até ao fio do lombo
Como te tremem as carnes
Fernão Mendes”

É bom relembrar o quão bela é a música e a língua portuguesa. Definitivamente, fez-se história neste encontro. Comprovem no CD ao vivo que será lançado.

Standard
Cinemadas

Orfeu Negro, 1959

97450678_21494701e2

Orfeu Negro foi o único filme de língua portuguesa a ganhar um Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Digo de língua portuguesa, e não brasileiro, porque oficialmente foi considerado como sendo um filme francês, por causa do seu realizador, Marcel Camus, e de uma das suas produtoras. Assim o foi com a Palma de Ouro e com o Globo de Ouro; já o Bafta decidiu atribuir também o mérito a quem de direito.

Pouco importa: é cinema brasileiro, e de uma era em que esse cinema dava cartas sem necessitar de disparar um único tiro ou proferir algum palavrão. Uma era em que a favela era só morro, e o Rio merecia plenamente o epíteto de Cidade Maravilhosa.

É um filme que poderia ser visto de olhos fechados, tamanha a qualidade da banda-sonora do mestre Antônio Carlos Jobim e Luiz Bonfá (prelúdio da bossa nova que estava nascendo), e a intensidade do samba que rola praticamente constantemente ao longo das quase duas horas de filme. Mas o melhor mesmo é mantê-los bem abertos, e desfrutar da explosão de cor (ou eastmancolor) com que o Rio antigo e os seus habitantes são retratados.

Penso até que o tal do Camus ficou demasiado vidrado pelo Rio e pelo samba e esqueceu que estava fazendo um filme, com tanta sequência de longos minutos em que só se vêem pernas frenéticas balançando e corpos suando de um lado para o outro. Compreensível e perdoável, provavelmente aconteceria a qualquer um.

A história é uma adaptação (bastante) livre da tragédia grega de Orfeu e Eurídice, adaptada à realidade carioca. Tragédias gregas são temas recorrentes na música e dramaturgia brasileira (vide a Gota D’Água do Chico), sendo o próprio filme inspirado numa peça de Vinicius, Orfeu da Conceição. Não sei quem foi o primeiro a encontrar a ligação entre as tragédias gregas e o Carnaval carioca, mas a fórmula provou ser brilhante.

Todo ele é exuberância, ingenuidade, e completa demonstração do que é a insanidade daquele Carnaval. É sem dúvida um retrato demasiado romantizado e lírico, mas que não deixa de exercer enorme fascínio.

Não percebo como a carreira da belíssima Marpessa Dawn (que não era brasileira) não deslanchou em seguida: ela nem precisava falar para encher a cena, tamanha a simplicidade e beleza dos seus gestos.

Parafraseando e repetindo, o simples já é de si complexo. E faz cada vez mais falta.

Standard
Pátria que me pariu, Sonoridades

Seu Jorge

ng1202582

Grande noite de sexta. É a primeira vez que vejo o homem ao vivo, e só posso recomendar a quem tiver a oportunidade de fazê-lo, que não a perca.

O Jorge Mário é neste momento um dos artistas brasileiro em melhor forma. Ele agora viaja com uma banda de 14/15 elementos, o que o deixa ainda mais solto em palco. Soltíssimo, sempre.

Começou muito calminho, os hits mais recentes América do Norte, Trabalhador Brasileiro, a banda e o público meio que estranhando, mas aos poucos foi aquecendo para duas horas e meia electrizantes.

A determinado momento, Seu Jorge pergunta por um fã que tinha lhe “passado um e-mail pedindo um favor”, e pede-lhe que sobe ao palco. O objectivo do homem era pedir a amada em casamento, e foi cumprido, com direito a champanhe e tudo. Moral.

A partir daí foi sempre em crescendo, começando com Seu Jorge sozinho na guitarra esgalhando aquelas belas versões do David Bowie (acho que desta vez foi Live on Mars e Rebel, não houve a minha preferida sufragette city), e passando pelos momentos que mais gostei: o clássico de Leci Brandão, Zé do Caroço, e a libertadora adaptação do Chatterton do Gainsbourg (PUTA QUE PAAAARIUUUUUUU!). Relembrar Carlinhos Brown com “a namorada” também foi bonito.

Ficou provado que os melhores momentos são sempre os mais simples. No caso de Seu Jorge, o simples já é de si complexo, com aquela música retalhada de samba, bossa nova e soul.

Houve direito a um momento especial de três elementos da banda, o “trio preto”, brincando com três pandeiros. Muito banal, mas o suficiente para deixar os tugas malucos.

Aos apelos para que não abandonasse o palco, Seu Jorge respondeu com um inusitado carnaval de outono: um mix de todas as músicas bregas de carnaval: mamãe eu quero, maria sapatão, etc. Os tugas enlouqueceram, uma vez mais. Venham outras.

Standard
Sem categoria

Tese

Agora que tenho a certeza absoluta, cá vai o tema da minha tese de mestrado: Métodos de Criação, Avaliação e Extensão de Ontologias para Descrição de Comunicações em Contexto de Organizações.

Antes de mais, acho melhor explicar o que é uma ontologia e para que serve, não é? Vou tentar não me alongar muito.

Epá o que é que existe? O que é que não existe?
Epá o que é que existe? O que é que não existe?

O conceito de ontologia surgiu já na Grécia Antiga, sendo logia o estudo, e onto do ser. No sentido metafísico, é o ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, questiona o que existe e o que não existe, e de que modo podemos agrupar as entidades existentes.

A nível das tecnologias de informação, uma ontologia constitui a representação formal de um conjunto de conceitos de um determinado domínio e as relações entre eles, com o objectivo de representar o conhecimento e de permitir inferência lógica a partir dele.

Tal é alcançado através  de, entre outros, o uso de objectos, classes, relações e propriedades, em linguagens como o OWL. Suponhamos eu: sendo o objecto Ygor, pertenceria à classe das Pessoas, e teria a propriedade de ter olhos verdes. Estaria ligado por uma relação “adepto” ao Sporting, que seria um objecto da classe Clube de Futebol, Futebol esse que é um objecto da classe Desporto, e por aí adiante.

As ontologias constituem uma das bases para o que vem sendo a Web Semântica (também lhe chamam 3.0); é através das ontologias que se especificam as conceptualizações (significados) da informação, tornando-a semanticamente rica, extensível e, fundamentalmente, perceptível, tanto por nós (humanos) quanto pelos computadores, que é a grande novidade: o texto aos “olhos” de uma máquina deixar de ser apenas texto, e passar a ter significado.

Uma das coisas que me motivou foi que esta será à partida uma tese com utilidade, na medida em que está integrada num projecto duma solução de software de gestão de um centro comunicações (ECC – Enterprise Communications Center), sendo por isso abrangida por uma bolsa de investigação.

O que eu vou fazer, basicamente, é modelar ontologias que se adequem ao contexto específico das comunicações em questão (cartas,telefonemas,e-mails,vídeo-chamada,etc), dos seus interlocutores e das suas organizações, tentando fazê-lo de modo a que seja tudo facilmente extensível a outros domínios e estabelecendo metodologias e técnicas próprias para esse efeito. Essas ontologias servirão de base para encaminhamento automático das comunicações, pesquisa, obtenção de resultados e navegação na aplicação.

Wish me luck.

Standard
Andanças

Badoca Park

Grandas GNU!

Grandas GNUS!

Este feriado, e a propósito do aniversário da mais que mais que tudo, aproveitamos para fazer uma coisa que já vínhamos prometendo há bastante tempo: conhecer o Badoca Park.

E o Badoca é fixe. Para quem não sabe, o Badoca é um parque temático inspirado no continente africano, na região portuguesa mais parecida com África: o Alentejo.

Há lá um safari puxado por um tractor que decorre durante cerca de uma hora; o seu grande forte nem é a variedade de animais (que é imensa), mas o modo como vai sendo apresentado pelos simpáticos guias alentejanos. Come-se bastante pó, mas aprende-se imenso acerca da vida das girafas, búfalos, gnus e companhia, que andam por lá à solta.

Há também espectáculo de aves de rapina, uma ilha de primatas, uma simulação dum rafting e sessões de interacção com os lémures marados de Madagáscar. E um parque de cabras, que me deu fome: eu que sou da cidade, só descobri agora que as cabras cheiram mesmo igual ao queijo de cabra…

Num país com tão pouca oferta a nível de parques temáticos e afins, o Badoca faz muita falta.

Uma palavra de apreço para o hotel em que ficamos, o Vila Park, em Vila Nova de Santo André. É um 3 estrelas que mais parece ter 4 ou 5. Costuma ter bastantes promoções: eu aviei-me num dos leilões que costumam fazer no site, tendo arrebatado por uma pechincha duas noites com um jantar de mariscada delicioso incluído. O chefe recomenda.

Standard
Pátria que me pariu

Rio 2016 – Yes We CRÉU!

Quem vê este vídeo e não se arrepia é um grande animal.

Excelente pretexto para fazer uma visita à minha cidade-berço. Espero que hajam outras entretanto, que até 2016 já tou careca.

Agora, sejamos honestos: foi uma luta desleal. Com Tóquio e Chicago a arderem logo (nem o Obama safou a coisa), uma final entre Rio e Madrid? Mas brincamos?

Muito trabalhinho pela frente, mas é mesmo disso que a cidade maravilhosa precisa. Ainda acredito, e muito, no meu Brasil, o eterno “país do futuro”…

Agora com licença que vou ali ver se o meu segundo sobrinho já decidiu nascer, que é p’ra poder partir para um fim de semana alentejano com a mais que tudo.

Fui!

Standard