Cinemadas

Caveira!

A primeira vez que ouvi falar que iam fazer uma sequela do Tropa de Elite, fiquei bastante de pé atrás, achando que iam tentar esticar a corda da popularidade do filme com uma história qualquer de encher chouriço só para tentar recuperar alguns dos cobres que tinham perdido com a pirataria que abalou a estreia do primeiro. Ainda bem que fiquei assim, porque a surpresa foi boa, o filme é esplêndido.

O José Padilha manteve firme o leme, e decidiu tomar um rumo de certa forma arriscado, mas completamente certeiro. Não sei se possa dizer com absoluta certeza que a sequela suplanta o original, pois são demasiado diferentes, mas no cômputo geral acho que, para mim, consegue ser superior sim.

Se o primeiro filme desferia um murro no estômago, este tem uma trama (muito bem orquestrada) que enfia o dedo em várias feridas e chafurda até a infecção alastrar. A adrenalina descomedida dá lugar a uma viagem mais detalhada pela podridão dos diversos “sistemas” que corroem a sociedade carioca (e brasileira, em geral), desde as forças policiais até às elites políticas. As diversas caricaturas dos policiais e dos políticos teriam muito mais piada se não fossem verdade, ou seja, se na vida real não se continuasse a trocar vidas por votos e progresso por poder, como as mais recentes tragédias teimam em atestar.

A nível de interpretação em si, de Wagner Moura não preciso falar, fiel a si próprio e ao peso de ter uma personagem com o mundo às costas; destaco, no meio dos diversos maus da fita, o polícia Rocha, um vilão atípico que paradoxalmente consegue se destacar precisamente pela sua mediocridade, pela naturalidade e pelo desplante com o qual vai levando o seu esquema avante, como se nada fosse.

Uma indústria cinematográfica que consegue nos oferecer um filme desta maturidade, e que o faz sem abalar o seu sucesso junto do grande público, não fica a dever nada a Hollywood, senão algumas lições.

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