Paternidade

4 Anos

Há quatro anos atrás, era tudo bem mais simples. Havia mais tempo, menos preocupações, poucas dúvidas e incertezas.

Não havia quem gritasse em desespero “pai!” às duas e meia da manhã, nem quem me obrigasse a dançar quando chegava do trabalho, pronto para me esticar no sofá. Não via os mesmos desenhos animados nem lia as mesmas histórias trezentas. vezes. seguidas.

Ninguém esperava obter de mim as respostas para tudo o que é imaginável perguntar, nem inquiria em seguida o porquê do porquê do porquê, e porquê.

Preocupava-me pouco a estupidez humana ou o futuro do planeta, e compadecia-me menos, fosse com o que fosse.


O tudo que era mais simples, perderia hoje a graça, de tão menos desafiante. O tempo a mais seria em vão, pois não mais teria como preenchê-lo, de forma tão veemente.

Não haveria quem me emocionasse de tal modo, com gestos tão pequenos, nem que me surpreendesse tanto e tão frequentemente, de todas as maneiras.

Ninguém me obrigaria de forma tão latente a desconhecer os meus limites e a dar diariamente o melhor de mim.

Preocupar-me-ia mais com pormenores somenos, e julgar-me-ia mais forte, sendo no entanto mais vácuo.


Só voltaria há quatro anos atrás se fosse para te trazer ao mundo outra vez.

Parabéns e mais uma vez, obrigado. O mano também agradece, pois só o tornaste ainda mais desejado.

 

 

 

 

 

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Três anos

Há três anos atrás nascia aquela que é hoje “a minha mais velha”, e nada me proporciona maior orgulho do que ver como ela evoluiu desde então.

Obviamente nem tudo são rosas. Este período entre os dois e os três anos foi definitivamente o mais desafiante até agora. A maior compreensão de tudo o que lhe rodeia conjugada com a capacidade de argumentar e o crescimento exponencial da vontade própria são uma combinação explosiva, materializada frequentemente nas mais poderosas birras. Há que saber aguentar e aprender a lidar com elas, pois tão depressa aparecem quanto passam. Mas moem!

Ainda se atrapalha com algumas palavras, mas em geral tem já um vocabulário muito rico. Não podemos nos descuidar um segundo na sua presença, pois absorve tudo com uma facilidade incrível. Basta ouvir uma vez para entrar no seu repertório. De vez em quando surpreendemo-nos (apesar de tentarmos não demonstrá-lo) com uma ou outra asneira que apanha no ar. Já a vi, por exemplo, a dizer “benfica”.

Tenta ser o mais independente possível, e gaba-se com muito ênfase quando não precisa de nós para alguma coisa, seja vestir, montar um puzzle ou simplesmente meter o cinto de segurança no carro.

Desde sempre soube manipular-me, mas tem aprimorado com cada vez mais requinte essa arte. É “minha fofurinha” para aqui, “meu pai lindo amor” para ali, “somos muito amigos não somos pai?” acolá, e é ver o idiota derreter-se todo a seus pés. Fácil.

Está a 200% na fase dos porquês. Dá-me muito prazer puxar pela sua imaginação e tentar responder a todos até à exaustão, mas na maior parte das vezes acaba por ser do meu lado que esta aparece. Agrada-me que ela questione tudo, e espero que mantenha o hábito para o resto da vida (na devida proporção).

Se me estiveres a ler daqui a uns anos, espero que tenhas mantido também viva a curiosidade, o sentido de humor e a vontade de viver tudo intensamente. E que me continues a ter em conta como um amigo.

Obrigado, por acrescentares vida aos anos que passam.

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Dois Anos

A velocidade dela assusta.

Um turbilhão de coisas se passaram à sua volta desde que fez um ano de idade, mas não há nada que se compare à sua própria evolução.

Já não se resume a dizer uma coisa ou outra: ela conversa, tagarela, conta e desconta, inventa, pergunta, contrapõe, argumenta. Aprende sem ensinarmos, ensina-nos sem percebermos.

Entusiasma-se com a mesma facilidade que se aborrece. Tem muitas e variadas preferências e manias, que vão indo e voltando ao sabor do vento. Tudo é festa, tudo é drama. Tem pressa. Tem medos.

Tanto sou pai quanto sou mais um brinquedo, que ela desmonta e esconde no quarto dos bonecos.

Nem sempre é meiga e doce, mas quando quer, tem muito amor para dar. Mesmo que não queira, terá sempre muito amor para receber.

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18 Meses

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Eu pondero sempre se é agora que vou deixar de escrever sobre a evolução dela mensalmente e passar a fazer uma coisa mais espaçada, mas ela não pára de evoluir e me fornecer material para deixar registado. Além disso, 18 meses são ano e meio, é mês de consulta e tudo, merece!

Cada vez temos que lhe explicar menos coisas. Se perguntamos se quer ir tomar banho ou ir ao quarto dos brinquedos (e lhe apetece), ela começa logo a dar a mão e a encaminhar-se para as escadas. A mesma coisa para ir à rua. Fica chateada quando não consegue fazer as coisas de forma independente.

Pede muita coisa e pede com insistência; se não vai na fala ou no grito, parte para a demonstração, como quando tenta me empurrar para eu deitar e fazer massagem (esse é dos melhores cenários possíveis).

Tem muito vocabulário, mas quase todo cortado pela metade ou por uma das sílabas, o que gera muitos sinónimos no seu dicionário. Minnie é mimi, que também é milho, bola é bó, que também é ir embora, por aí vai. Ao menos nunca se confunde dentro dos seus contextos.

Vai tentando conversar e fazer frases, ainda que sem as ligações. Por exemplo, vai passear de carro comigo e com uma das milhentas Minnies, chega e diz à mãe DADÁ MIMI POPÓ.

A nível motor, está uma máquina, o que nem sempre é bom, pois tenta galgar tudo o que encontra à frente, qualquer que seja a altura. Já não podemos virar as costas no quintal um minuto, pois quando olhamos já está de pé ou de frente no alto do escorrega. Agarra, empurra, empilha, estica, puxa… não noto nenhuma perícia em que tenha dificuldade de maior. Tomou o gosto por rabiscar, mas ainda não lhe deu para experimentar as paredes.

Já é difícil pará-la. Ela que não o deixe, a ninguém, nunca.

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17 Meses

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Dizia eu que ela vinha dando saltos de evolução não era? Esqueçam. A evolução já não salta, voa. Nós piscamos os olhos e ela já cresceu mais um pouco. Olhamos para o lado e ela já traz outra novidade.

O carrinho de passeio já está encostado à box. Quer é andar e correr. Quer simular que conduz (carrinhos de supermercado, os pais) fazendo vrummmmm, buzinando.

Percebe tudo o que lhe dizemos, às vezes mais do que estamos à espera. Tentamos sempre falar com ela e explicar as coisas de igual para igual, e acho que isso é importante. Fica muito feliz de fazer as “tarefas” que lhe pedimos. Agora por exemplo durante a Copa vai me buscar cervejas ao frigorífico, vai comprar cigarros e traz o troco em pastilhas…. calma calma, brincadeira!

Falando em brincadeiras, é cada vez mais criativa nas suas, misturando brinquedos e objetos, incitando-nos a entrarmos também… “mamã, dadá, bebé, bó (embora)”! Vê a máquina, quer me cortar o cabelo, vê o estojo de maquilhagem quer me maquilhar… adoro!

Pela primeira vez na vida tomou um antibiótico. Até agora nós (e a pediatra, claro) temos insistido em que crie as próprias defesas, mas teve uma constipação que evoluiu para uma otite que demorou um bocado mais a passar e teve que ser. Felizmente acabou por não ser nada de especial.

Ainda não lhe fizemos teste de visão mas acho que ela vê bem até demais; se passa uma criança com um boné ou um artigo qualquer da Minnie o grito MIMI sai instantâneo. A Mimi e a Dotô (Doutora Brinquedos) são os motivos mais frequentes de birras. Não que ela não as fizesse antes, mas agora são muito mais concretas: ontem não queria ir passear se não fosse com o pijama da Dotô. Fases.

Tudo passa quando vem correndo disparada para nos dar um abraço e um beijo. Por pior que tenha sido o dia, se a oiço gritando “Dadá!” e fazendo esse movimento mágico, tudo muda.

She’s like a rainbow.

 

 

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16 Meses

Este vai ser rápido: entre a foto do mêsversário anterior e esta, 3 kg de roupa de diferença. De resto, tudo igual.

Brincadeira! Do décimo quinto para o décimo sexto sexto mês, a Carolina mudou e evoluiu muito, foi possivelmente o maior salto dos últimos tempos.

Eu já tinha referido que ela começou a andar, mas o começar passou para querer andar (não quer nem ver o carrinho à frente), e esse andar muitas vezes é mais em jeito de corrida do que de passeio.

E já que já sabe andar, decidiu também que só quer estar na rua, o que no país em que ela está neste momento, não é muito fácil.

Com essas novas habilidades, vem maior vontade de ser mais independente e de querer decidir fazer o que quer e quando quer, e com isso surgem as primeiras birras de verdade.

O tal anjo de quem eu falava vai ganhando (ou perdendo) asas e se tornando um diabinho. Faz parte…

 

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14 meses

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A maior caraterística a salientar da Carolina nesta fase é a imprevisibilidade. Conhecemo-la melhor que ninguém, mas surpreende-nos a todo o momento. Quando achamos que vai se portar mal numa viagem, dorme ou brinca o caminho todo, quando achamos que vai se portar bem, faz o inverso.

Tanto dá-nos um carinho quanto uma porrada (normalmente na ordem inversa, porque já sabe como agradar para “compensar”), tanto parece não estar nem aí para o que estamos dizendo quanto responde ou reproduz por sons ou gestos o que estamos falando.

Ainda não ganhou coragem e equilíbrio para andar sozinha, mas prefere andar pela casa de mão dada do que a gatinhar, para mal das nossas costas.

Continua completamente obcecada com fruta: quando vê morangos ou kiwis à frente, o mundo pára.

Aprende e repete com cada vez mais facilidade as palavras novas que vamos ensinando, e até trisilábicas já arrisca de quando em vez (banana = nanana; já tinha dito que ela era obcecada com fruta?).  Para nos chamar, aprendeu a gritar MAMÃ ou DADÁ a plenos pulmões, estejamos a 100 ou a 1 metro.

Já começa a ser difícil entrar com ela nas lojas de brinquedos. Se antes éramos nós que ficávamos deslumbrados, agora ela já aponta, já pede… tem dias em que a primeira coisa que faz quando acorda, ainda antes de abrir os olhos (juro), é apontar na direção do quartinho dos brinquedos.

Continua adorando dançar; se antes era sempre a mesma dança, agora já se sacode mais conforme o ritmo. O mesmo para as fotos, fazendo poses.

Enquanto puder, seguirei sempre dançando com ela.

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13 meses

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Um ano e um mês, tem já a minha filha.

No mês passado, na euforia do aniversário saltei o relato da evolução, sempre tremenda.

Tivemos um pequeno susto por essa altura, pois ela evoluiu bem de altura mas não de peso, dos 9 meses para os 12. Os exames mostraram que isso vinha acompanhado de baixo nível de ferro, uma anemia ligeira.

Felizmente isso já é passado e voltou a “enfardar” bem. Tirando isso não teve qualquer outro sintoma, continuando a ser uma bebé activa, esperta e maravilhosa.

De repente e de rompante, passou de zero a seis dentes, o que provavelmente contribuiu para lhe deitar um pouco abaixo. Usa-os para trincar, para ranger (credo filha!) e para nos morder, rindo.

Diz muito mamã, diz ora papá ora dadá ora babá, diz olá, diz nanã para não, abana a cabeça para sim e, pior ou melhor ainda, fá-lo precisamente quando e como quer.

Bate palmas, acena, dança, faz com o indicador que tem um ano, esfrega as mãos quando dizemos que está frio e, e.. estende os bracinhos para o alto em resposta a SPOOOOOORTING! Aprende cada vez mais rápido, com as últimas gracinhas bastou uma repetição.

Finge que conversa e que lê com fluência. Sabe o que é a mão, o pé, a cabeça, os olhinhos e anda obcecada com barrigas.

Continua comendo bem mas já vai deitando fora o que não lhe apetece (maioritariamente, sopa) e, se pudesse, comia fruta o dia inteiro.

Gatinha a uma velocidade furiosa, caminha agarrada às paredes e corre às gargalhadas para os nossos braços, nos seus três ou quatro passos trapalhões.

Tem cada vez mais energia e personalidade, eufemismo para dar cada vez mais trabalho, sinónimo de dar cada vez mais orgulho e vontade de viver.

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Um Ano

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É difícil falar no primeiro ano de vida da minha filha sem cair em lugares comuns. Normalmente não tenho dificuldades em escrever ou me expressar sobre aquilo que quero. Para meu espanto, nunca me custou tanto escrever algo quanto este texto.

É isso que ela faz, constantemente, desde que chegou a este mundo há um ano atrás: me desarma, me desconstrói, me faz ver o quanto sou frágil, mesmo me sentindo imensamente mais capaz e forte.

Ser pai é assim, um jogo sem regras nem instruções, em que vamos tacteando às cegas e vendo no que vai dar. É uma porrada bem forte que levamos e que nos diz: não, tu não sabias nada de nada, nem sobre a vida nem sobre ti próprio. Agora levanta-te, que há alguém que precisa de ti.

É um tremendo acto de coragem, mas também de derradeiro egoísmo. É garantirmos que o que quer que suceda e onde quer que estejamos, nunca mais estaremos sozinhos. É querer que ela cresça rápido, é querer que ela não cresça nunca. É perder a identidade, a liberdade, e mesmo assim perceber que nunca gozamos tanto a vida.

Ser pai é progredir regredindo, é virar sábio voltando a ser criança. Encontrar a alegria nas mais pequenas coisas. Perder a noção e o medo do ridículo. Dançar freneticamente ao som do silêncio, meter ganchinhos no cabelo sendo careca. Vale tudo.

Há trezentos e sessenta e cinco dias que a nossa filha nos fez embarcar na maior viagem das nossas vidas. E não há nada que importe mais neste momento.

Com licença, que vamos festejar.

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