Teatradas

Monstro no Labirinto

Sempre tive muita curiosidade de assistir a uma ópera, e ontem proporcionou-se a oportunidade de fazê-lo, no auditório da Gulbenkian.

A ocasião foi ainda mais especial por ser uma ópera comunitária (junta coros profissionais e amadores de vários pontos do país) e por ter uma tia e um colega como parte do elenco.

Monstro no Labirinto é baseada no mito grego do Minotauro, um monstro meio touro meio homem que habitava um labirinto mandado erguer por Minos de Creta. Em vingança pela morte do seu filho às mãos dos atenienses, Minos declara guerra a Atenas e, após conseguir subjugar a ilha, ordena que de nove em nove anos seja enviado um barco de jovens para banquete do bicho. Isto até que Teseu, um herói ateniense, decide embarcar com eles tendo em vista matar o monstro.

Esta adaptação tem como pano de fundo a problemática actual dos refugiados, e vai conjugando e misturando a história com imagens desse flagelo. Surpreendeu-me imenso a afinação e a organização daquela quantidade enorme de gente (centenas, incluindo crianças), mas principalmente o impacto emocional que consegue transmitir em tão curto intervalo de tempo, entrando logo a matar e culminando com uma envolvente espectacular dos jovens a cantar à volta do público.

Penso que não seja hábito acontecerem este tipo de iniciativas em Portugal, mas assim que suceda, aconselho vivamente.

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Leituras

1984

Big Brother is watching you.

Ultimamente tenho tentado dedicar o meu tempo livre aos clássicos, tanto no que diz respeito ao cinema quanto à literatura, e este era um dos que estava na calha há bastante tempo.

Li a versão portuguesa traduzida pela Ana Luísa Faria e editada pela Antígona. Só depois de terminar a leitura é que me apercebi da idade do livro: foi publicado pela primeira vez em 1949, e não sei se isso torna ainda mais impressionante a capacidade visionária do George Orwell de manter uma história actual durante tanto tempo, ou simplesmente ilustra o quão pouco evoluímos em determinados aspectos. Infelizmente inclino-me para a última, pois acho que muitas das temáticas nele abordadas acabarão por ser tendências sempre actuais, nomeadamente o revisionismo e a manipulação da opinião pública, e a ganância e voracidade das máquinas do poder.

Apesar de serem muito mais óbvias as críticas ao (suposto) socialismo e em concreto à únião soviética, não deixa de disparar para todos os lados e a deixar muitas farpas e indirectas ao capitalismo e aos governos ditos democráticos, ficando no ar (pelo menos para mim) uma conclusão definitiva (se é que isso é possível) das ideias do autor.  Mais do que isso, lança essa confusão de forma brilhante, carregada de ironia e de reviravoltas numa história que aparenta ser previsível, mas que consegue ser surpreendente até ao final.

Passou directamente para a prateleira dos meus favoritos.

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