Sonoridades

MPB-3

No dia 8 deste mês morreu o Magro, um dos eternos integrantes do grupo vocal MPB-4.

Empobrecidos, no sábado seguinte cantaram pela primeira vez em público sem o amigo, no que Miltinho definiu “como um salto sem rede”, que abriu com a magnífica “Porto”, de Dori Caymmi.

Os meus quatro momentos preferidos do percurso dos MPB-4 são estes:

Roda-Viva, de (e com) Chico Buarque, uma das mais belas músicas já escritas em português. Tem a particularidade de ter sido escrita para a peça com o mesmo nome, que na altura teve o seu cenário destruído e seus atores espancados pelo CCC, apesar de nem ter nada a ver com comunismo.

Partido Alto, também de Chico Buarque e já reavivada por muitas outras vozes, mas que ganha derradeiro sentido na interpretação dos quatro magníficos.

A belíssima e simples Lua, de que me lembro sempre que está lua cheia, e que vai ser muito boa para cantar para a minha filha.

E De Frente pro Crime, de João Bosco, uma brilhante e animada narração de um assassinato e da indiferença que provoca nos que o presenciam.

Obrigado, Magro.

Standard
Cinemadas

The Dark Knight Rises

Como nos anteriores, tinha muitas expectativas para este último filme do Nolan sobre a mitologia do Batman, e só não o acho um grande filme porque há meia hora a mais nas 2h30 que o compõem.

Essa meia-hora a mais são alguns devaneios de acção, deixas “cómicas” demasiado forçadas e uns twists que não o chegam a ser, mais para o final. Serve para agradar de forma transversal a mais tipos de audiência, mas a mim deixa um certo amargo de boca.

Tirando essas picuices, o filme tem argumentos de sobra para prender a atenção do espectador, abordando simultaneamente diversos temas angustiantes que afligem a nossa sociedade, como o terrorismo e os falsos messias, o declínio económico e o potencial incendiário que os 1% causam (em nós) nos outros 99, a inversão dos nossos valores morais, e por aí vai.

Gotham vive em paz há quase uma década, e durante esse período o Batman nem precisa sequer dar as caras (nem convém, porque é acusado de homicídio do Harvey Dent). Esta paz está alicerçada numa lei repressiva e com falsos pressupostos, que permite que todo e qualquer suspeito de crime seja colocado atrás das grades.

Como toda a paz podre, esta é deitada por terra com a entrada em cena de um vilão, Bane, que além de portador de um tremenda força bruta é extremamente inteligente e um líder carismático, capaz de incitar os seus seguidores à morte, de sorriso nos lábios.

O meticuloso plano de Bane para fazer ruir Gotham inclui a libertação dos seus criminosos e o cárcere dos seus policiais, a destruição da fortuna dos seus milionários através da apropriação da bolsa de valores, e a manipulação das massas, tentando-lhes fornecer uma ilusão de “devolução do poder ao povo”, uma espécie de Robespierre dos tempos modernos. Pelo meio o Batman, além de vencido, é torturado com a não-morte, e a obrigação de presenciar impotente a queda da cidade que protegia.

Não fornecendo um veículo de interpretação tão poderoso quanto o que propiciou a encarnação do Joker no Heath Ledger no último filme, temos um vilão muito competente e coadjuvantes excelentes, como a ladra profissional e o polícia novato a quem o Batman tem que se agarrar no meio do caos, nomeadamente a Hathaway numa excelente Catwoman e o Gordon-Levitt como Blake.

Mais uma vez, este realizador encontrou mesmo a fórmula para isto, de encontrar equilibrio entre agradar às massas e ao mesmo tempo fazer filmes de qualidade, metendo-as a pensar. Isso é que é preciso.

Standard
Cinemadas

The Raid Redemption

Este filme serve para quebrar um bocado o tom lamechas que tem imperado por aqui, sendo uma brutal demonstração de acção e violência levada a cabo por uns indonésios que nos fazem o imenso favor de demonstrar que ainda há lugar para os bons e velhos filmes de artes marciais.

A premissa é simples: uma força policial especial é chamada a intervir num edifício onde impera a lei de um barão da droga, mas descobre rapidamente (e da pior forma) que está entregue à sua própria sorte, pois a missão é tudo menos oficial e visa apenas servir o seu mandante, que é corrupto até ao tutano.

De andar em andar a acção vai se centrando em Rama, um policial honesto prestes a ser pai, e que vai se valendo dos seus dotes de lutador para garantir a sobrevivência. E que lutador! O maior elogio às cenas de luta é que elas doem, e muito, só de serem vistas. Pelo meio ainda um enredo clássico de dois irmãos do lado errado da lei, e a dita cuja redenção.

Completamente diferente do filme de que falei antes, mas que também me prende pela originalidade num género maltratado. Aguarda-se o remake parvo americano.

Standard
Cinemadas

Ted

Tenho andado a falhar nas reviews de filmes, já vi este há quase um mês e nada disse. Mas muito gostei, como há já algum tempo não gostava de uma comédia à americana.

Nesta em particular, a história centra-se à volta da amizade entre um rapaz e o seu urso de peluche, que ganha vida após o puto fazer um pedido. Os dois vão crescendo juntos, e às tantas são dois trintões que se recusam a crescer, sendo o urso o expoente máximo da vadiagem e do politicamente incorrecto, atrapalhando a todo o momento a já problemática vida amorosa e profissional do comparsa.

Primeiro que tudo, não sou fã do Family Guy. Os desenhos enervam-me e noto que muitas vezes as situações são semelhantes a outras que vi nos Simpsons. O humor aqui empregue segue de forma mais ou menos óbvia a mesma linha, mas parece-me mais original, mais certeiro, e estranhamente mais plausível (!).

É preciso coragem para arriscar uma ideia destas dada o panorama das comédias que fazem sucesso atualmente, e só pela originalidade o filme já ganha muitos pontos. Mas o seu forte principal é a forma como rapidamente “desprende” o enredo do urso. Podia ser um gajo qualquer que ali estava, mas é um urso.

Bom devaneio.

Standard